quarta-feira, 8 de julho de 2009

Who's bad ? - Kiko Riaze


“O que está acontecendo com o mundo hoje após a morte de Michael Jackson já mostra quem ele era.”

Esta foi mais ou menos a frase que ouvi do ator Murilo Rosa ontem na tv. Acho que essas palavras resumem tudo. Michael foi o artista pop do século. Ele era completo: cantor, dançarino, compositor, produtor…
Fez parte da minha infância . Eu ficava vidrado na frente da tv quando passava o clip de Thriller. Na minha casa tínhamos todos os seus discos de vinil e eu adorava ver meu irmão do meio fazendo os passos do moonwalker com sapatilhas e meias iguais as dele ao som de Bad.
Escândalos a parte, que nunca saberemos até que ponto eram verdadeiros, a trajetória artística e humanista de Michel e toda sua obra são inegavelmente marcantes e nunca serão esquecidas.
Após a sua morte, o cantor Will.I.am disse :"Eu não ficaria surpreso se a terra parasse de girar amanhã". Claro que tem um grande tom de exagero nisso, mas a comoção que tomou conta do mundo tem razão de ser.
Michael abriu nossos olhos para este monte de regras e costumes tolos a que estamos presos e não queremos ver. Agora, estamos enxergando nossa verdadeira condição humana, que inclui glória e dor, fama e solidão e, por isso, estamos chocados.
Michael Jackson subvertia todas as convenções. Viveu de maneira dolorosamente lúdica mas, de certa forma, inspiradora.
Foi um grande privilégio para todos nós vivermos em sua época. Que tiremos bom proveito disso e também, todas as gerações que virão.


Assim como Peter Pan, Michael não envelheceu. Eis o seu legado :”Neverland é um lugar na mente”.

Postagem por: Kiko Riaze - http://kikoriaze.wordpress.com/2009/06/29/whos-bad
Viva Michael!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Fernão Capelo Gaivota

"- Por quê, Fernão, por quê? - Perguntava-lhe a mãe. - Por que é que lhe custa tanto ser como o resto do bando? Por que você não deixa os voos baixos para os pelicanos, para o albatroz? Por que não come? Filho, você está que é só pena e osso!

- Não me importo de estar pena e osso, mãe. Eu só quero saber o que posso fazer no ar e o que não posso, é tudo. Só quero saber isso.

-Escute, Fernão - disse-lhe o pai com bondade. - O inverno não está longe. Haverá poucos barcos e o peixe da superfície irá para zonas mais profundas. Se você tem necessidade de estudar, então estude o alimento e como consegui-lo. Esta história dos voos está muito certa, mas você tem de pensar que não pode comer um voo rasante. Não esqueça que a razão por que você voa é comer.

Fernão baixou a cabeça, obediente. Nos dias seguintes tentou comportar-se como as outras gaivotas; tentou de fato, gritando e lutando como o resto do bando, em volta dos pontões e dos barcos de pesca, mergulhando sobre restos de peixe e de pão. Mas não conseguiu."


A história de Fernão Capelo Gaivota foi um aprendizado para mim. Apesar de ter entrado no mundo da literatura muito nova, lembro de ter ficado meio atordoada depois de ter lido o livro. É uma história com um significado muito maior do que eu podia imaginar na época.
Reli há pouco tempo e o que descobri foi impressionante.
O autor trata da liberdade na sua forma mais inocente, quando pensávamos em ser um pássaro para poder alcançar os lugares mais inusitados que habitavam em nossas mentes. Queríamos liberdade.
O livro quer resgatar a liberdade primitiva, aquela que nos impulsiona a alcançar voos imcomparáveis.


" Para as pessoas que inventam as suas próprias leis quando sabem ter razão;
Para as que têm um prazer especial em fazer coisas bem feitas, nem que seja só para elas;
Para as que sabem que a vida é algo mais do que aquilo que os nossos olhos vêem. "

domingo, 5 de julho de 2009

Entre as folhas do verde - Marina Colasanti

O príncipe acordou contente. Era dia de caçada. Os cachorros latiam no pátio do castelo. Vestiu o colete de couro, calçou as botas. Os cavalos batiam os cascos debaixo da janela. Apanhou as luvas e desceu. Lá embaixo parecia uma festa. Os arreios e os pêlos dos animais brilhavam ao sol. Brilhavam os dentes abertos em risadas, as armas, as trompas que deram o sinal de partida. Na floresta também ouviram a trompa e o alarido. Todos souberam que eles vinham. E cada um se escondeu como pôde. Só a moça não se escondeu. Acordou com o som da tropa, e estava debruçada no regato quando os caçadores chegaram. Foi assim que o príncipe a viu. Metade mulher, metade corça, bebendo no regato. A mulher tão linda. A corça tão ágil. A mulher ele queria amar, a corça ele queria matar. Se chegasse perto será que ela fugia? Mexeu num galho, ela levantou a cabeça ouvindo. Então o príncipe botou a flecha no arco, retesou a corda, atirou bem na pata direita. E quando a corça-mulher dobrou os joelhos tentando arrancar a flecha, ele correu e a segurou, chamando homens e cães. Levaram a corça para o castelo. Veio o médico, trataram do ferimento. Puseram a corça num quarto de porta trancada. Todos os dias o príncipe ia visitá-la. Só ele tinha a chave. E cada vez se apaixonava mais. Mas a corça-mulher só falava a língua da floresta e o príncipe só sabia ouvir a língua do palácio. Então ficavam horas se olhando calados, com tanta coisa para dizer. Ele queria dizer que a amava tanto, que queria casar com ela e tê-la para sempre no castelo, que a cobriria de roupas e jóias, que chamaria o melhor feiticeiro do reino para fazê-la virar toda mulher. Ela queria dizer que o amava tanto, que queria casar com ele e levá-lo para a floresta, que lhe ensinaria a gostar dos pássaros e das flores e que pediria à Rainha das Corças para dar-lhe quatro patas ágeis e um belo pêlo castanho.Mas o príncipe tinha a chave da porta. E ela não tinha o segredo da palavra. Todos os dias se encontravam. Agora se seguravam as mãos. E no dia em que a primeira lágrima rolou dos olhos dela, o príncipe pensou ter entendido e mandou chamar o feiticeiro. Quando a corça acordou, já não era mais corça. Duas pernas só e compridas, um corpo branco. Tentou levantar, não conseguiu. O príncipe lhe deu a mão. Vieram as costureiras e a cobriram de roupas. Vieram os joalheiros e a cobriram de jóias. Vieram os mestres de dança para ensinar-lhe a andar. Só não tinha a palavra. E o desejo de ser mulher. Sete dias ela levou para aprender sete passos. E na manhã do oitavo dia, quando acordou e viu a porta aberta, juntou sete passos e mais sete, atravessou o corredor, desceu a escada, cruzou o pátio e correu para a floresta à procura de sua Rainha. O sol ainda brilhava quando a corça saiu da floresta, só corça, não mais mulher. E se pôs a pastar sob as janelas do palácio.