"Eu hoje acordei triste, - há certos dias
em que sinto esta mesma sensação
E não sei explicar, qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias... (...)"
Esse foi o primeiro poema que lembro ter lido, na mesma época também conheci Meus Oito Anos, de Casimiro de Abreu. Eu viajava para Barra de São João nas férias e sempre levava um livro comigo, era criança ainda e naquela vez acabei levando Uma Professora Muito Maluquinha, do Ziraldo. Acho que foi o melhor livro da minha vida, e não digo em história. Mostrou, além de meu primeiro contato com a poesia, que às vezes decisões são necessárias e que nem sempre entendemos o motivo da decisão do outro.
Depois desse dia, reli o livro uma centena de vezes, afim de buscar um novo sentido para a leitura, e conforme fui crescendo, encontrava um significado cada vez. É que nem o Pequeno Príncipe, só que mais direto.
Recentemente, eu acabei doando o livro, acho que outras pessoas gostariam de ter a oportunidade que me foi dada, mas o poema continua na mente, quase de cor:
"Eu hoje acordei triste, há certos dias
em que sinto esta mesma sensação
E não sei explicar, qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias...
E pergunto a mim mesmo: tu não rias
ainda ontem tão feliz? diz-me então
por que sentes pulsar teu coração
destoando das humanas alegrias?
E, nem eu sei dizer por que estou triste...
Quem me olha não calcula com certeza
o imenso caos que no meu peito existe...
A tristeza que eu sinto ninguém vê
- E a maior das tristezas é a tristeza
que a gente sente sem saber por quê."
J.G de Araújo Jorge