É surpreendente como um livro pode mexer com o interior de uma pessoa ... alguns emocionam, outros frustam e outros ainda tiram todas as nossas forças e tornam os nossos problemas tão pequenos, que nos envergonhamos de se preocupar ao extremo com eles.
A Cidade do Sol.
Impressionante história de duas mulheres afegãs. Mariam e Laila. Um único marido. Duas gerações, dois meios intelectuais, uma Volga e outra um Mercedes numa comparação estúpida do marido. A princípio rivais, mas a opressão em que viviam a tornaram iguais e foi justamente na dor que elas se viram unidas. Ambas constroem uma relação de cumplicidade, de carinho, de cuidado e de amor extremo uma pela outra. Uma arrisca a própria vida para defender a sua amiga. A outra entrega a própria vida para salvar a vida daquela que aprendeu a amar como se fosse a sua filha. Presas numa casa, elas cultivam valores de lealdade, generosidade, amor incondicional, valores de uma integridade indiscutível em contraste radical com a força brutal, desumana e discriminatória do seu marido e do regime do talibã. É uma história de ódio, mas também de amor. Do amor de infância que atravessa os anos e vence a despeito de toda a força contrária.
"Ali o futuro não contava. E o passado só continha uma certeza: o amor era um erro nocivo, e sua cumplice, a esperança uma ilusão traiçoeira. E onde quer que brotassem estas duas flores venenosas, Mariam as arrancava. Arrancava e jogava fora, antes que criassem raízes."
"Assim como uma bússola precisa apontar para o norte, também o dedo acusador de um homem sempre encontra uma mulher à sua frente. Sempre. Nunca se esqueça disso, Mariam."
"Você pode ser tudo o que quiser, Laila jan."
"De todas as dificuldades que uma pessoa tem de enfrentar, a mais sofrida é, sem dúvida, o simples fato de esperar."
"(...)Mariam acenou carinhosa. Dobram a esquina e Laila nunca mais voltou a vê-la."
"Pela última vez, Mariam fez o que lhe mandaram fazer."